3º Artigo de Opinião 1ª Edição - O Desporto para Deficientes

29-11-2012 16:45

 

Apesar de nos encontrarmos no ano 2001, é lamentável que nem todos os cidadãos deste país sejam tratados de igual modo e não desfrutem das mesmas oportunidades que outros. Estou concretamente a referir-me àqueles, que devido às circunstâncias e contingências da vida, acarretam consigo uma incapacidade física ou mental. Estes, para além de esquecidos e rejeitados pela sociedade em geral, são igualmente prejudicados na actividade desportiva.

Hoje em dia, observamos que a nossa população adere cada vez mais à prática do desporto e actividade física. As nossas praias, ruas, parques, etc., são cada vez mais cenários da prática desportiva. No entanto, estou certo que muitos de vocês nunca ouviu falar de desporto para deficientes. Mas ele existe! Por incrível que pareça, ainda existem pessoas neste país que se dedicam ao desporto para deficientes com toda a alma e carinho, apesar dos apoios humanos e monetários serem praticamente inexistentes ou precários. Esta triste realidade é fácil de ser explicada. O desporto para deficientes não enche os estádios, não move os media, não promove certo tipo de pessoas, enfim, não tem a visibilidade de que muitos precisam. As entidades ou núcleos de pessoas directa ou indirectamente envolvidas no desporto, apenas se interessam por aqueles que lhes podem oferecer poder, fama ou dinheiro. Como o desporto para deficientes não lhes proporciona tudo isto, o resultado final é o esquecimento e abandono daqueles que mais necessitam do nosso apoio.

Como todos vocês se lembram, no final do ano passado assistimos a mais uma Olimpíada, Sidney. Uma vez mais, a participação lusa pautou-se pelos fracos resultados, tendo Portugal obtido uma única medalha (judo), o que já vem sendo um hábito ao longo do nosso historial olímpico.

Algumas semanas mais tarde, na mesma cidade (Sidney), tiveram lugar os Paralímpicos (Olimpíadas para indivíduos com deficiências). Aqui, o brilho das medalhas foi bem maior, já que Portugal obteve um total de 15 medalhas, elevando bem alto o nome de Portugal. Posso-vos ainda dizer que estes fabulosos atletas que têm vindo sistematicamente a conquistar medalhas de ouro, de prata e de bronze, quer em campeonatos do Mundo, quer em campeonatos da Europa, receberem, durante os Paralímpicos, prémios monetários bem inferiores em relação aos atletas ditos normais.

Tenho também a certeza que foram muito poucos aqueles souberam ou acompanharam de perto o sucesso dos nossos bravos “Guerreiros”. A nossas televisões, rádios e jornais que realizaram uma fantástica cobertura nos Jogos Olímpicos, praticamente deixaram passar em claro a participação da comitiva portuguesa nos “outros jogos”, os Paralímpicos”. No entanto meus caros leitores, a culpa deste esquecimento não deve ser somente atribuída aos media, ao estado ou a outros organismos com responsabilidades cívicas, mas também a cada um de nós. Sim, porque nada fazemos para chamar a atenção das entidades responsáveis, pois o tema é delicado e difícil. Há que ser corajoso e reivindicativo nesta matéria. Aqueles que possuem deficiências poderiam ser vossos filhos, sobrinhos ou netos, estando certo que nenhum de vós desejaria que estes vossos entes mais queridos fossem deixados na sombra do esquecimento.

Muito recentemente, assisti a um seminário sobre o desporto para deficientes na Escola Secundária de Augusto Gomes. Este evento foi conduzido pelo o núcleo de estágio daquela escola, contando com a participação de dois grandes atletas de alto nível desportivo. Na parte final desse mesmo seminário, estes atletas realizaram um jogo denominado de Boccia (jogo de precisão). Foram efectivamente momentos inesquecíveis. Estou certo que, o empenho, o entusiasmo, a garra e a alegria de que cada um dos atletas mostrou, sensibilizou a assistência e fez-nos pensar em muitas coisas da vida. Muitos destes atletas, para atingirem elevadas performances, treinam cerca de quatro a cinco horas por dia, incluindo sábados e domingos. - Isto não é alta competição? Certamente que sim. Como se as dificuldades apontadas anteriormente não bastassem, alguns destes indivíduos têm de se deslocar do interior do nosso país para as grandes cidades só para obterem melhores condições de treino, para longe das suas famílias, onde nem sempre o regresso ao fim de semana é possível. Estes desportistas são uma vez mais vítimas dos desequilíbrios regionais que ainda persistem no nosso Portugal. Neste sentido, cidadãos, estado, media, entre outros, devem reflectir seriamente sobre a integração do deficiente na comunidade, em particular, no desporto de alto rendimento.

 

Professor Mário Marques

 

 

 

Mário A. Cardoso Marques, PhD
Department of Sport Sciences, University of Beira Interior – Portugal

 

Research Centre for Sport, Health and Human Development - Portugal
Associate Editor of the International Journal of Volleyball Research
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